
Falar em perfeccionismo virou piada graças às entrevistas de emprego:
"Me fale um defeito seu."
"Ah, acho que sou muito perfeccionista."
Isso porque afinal perfeccionismo é um daqueles defeitos-porém-qualidades-desejáveis-para-o-contratante, dos mesmos criadores de "eu trabalho demais", "sou excessivamente exigente comigo mesmo", "tenho ambições muito altas" etc. Você pegou a ideia. Mas acontece que perfeccionismo é ruim de verdade; e não apenas para sua saúde e vida pessoal, como para a sua tão desejada produtividade.
Isso acontece porque perfeccionistas têm uma forte tendência a pensar em 8 ou 80: ou faço perfeito, ou não faço - o que tem grandes chances de resultar em "não faço". E mesmo ciente de que essa é uma desculpa bem medíocre, grande parte do motivo pelo qual passei os últimos 5 dias sem postar nada, é porque embarquei nessa linha de raciocínio.
Escritores são, quase sempre, perfeccionistas. E some-se o fato de que trabalho com revisão (o que exige uma atenção absurda a detalhes), o resultado é que acho muito difícil controlar essa tendência. Cheguei ao meio do caminho do BEDA, e embora não esteja tão frustrada quanto achei que estaria, a verdade é que dos 16 dias que já se passaram no mês, 7 ficaram sem nenhum post - e isso incomodou.
No entanto, como eu disse, não me sinto mal. E me conforto com dois motivos. O primeiro deles é que uma amiga muito querida (a @fe_notavel do blog Algumas Observações), me disse que o maior objetivo do BEDA é se divertir. E tem sido divertido pra mim! Claro que eu gostaria de ter mais leitores acompanhando os posts, mas - e este é o meu segundo motivo para me sentir bem - eu tenho ficado satisfeita com o resultado dos que tenho conseguido postar.
Daí que se eu tiver de te deixar uma única sugestão para passar a semana (e o resto do mês, do ano, da vida) é que, de vez em quando, você entregue alguma coisa mais ou menos. Não estou dizendo para fazer o seu trabalho com desleixo, mas lembre-se de que na escola, se você tirasse 60 ou 70% da nota, já dava pra passar de ano.
Conversando com meu namorado na semana passada, percebemos o quanto crescemos de formas diferentes - e o quanto isso reverbera ainda hoje no nível de cobrança que temos sobre nós mesmos. Se eu tirasse nove, achava uma nota ruim. Ele, por outro lado, seguia a filosofia do: "faça o suficiente pra ficar de consciência tranquila e pronto". Resultado: lá se vão sete anos de terapia pra me convencer a ficar ok com um cochilo durante o dia, tirar o domingo pra ficar com a família, ou trocar o curso online por um filme de vez em quando. E sabe do quê? Ele terminou um doutorado na UNICAMP neste ano. Uma mentalidade gentil com si mesmo não o impediu de alcançar seus objetivos.
Por isso não vou me preocupar muito com o post de hoje. É dos melhores? Não. Mas está aí. E se você é um perfeccionista e precisa de alguém pra te dizer: "entrega 70% e tira um cochilo", eu repito:
Entrega 70% e tira um cochilo.
Fiquei arrepiada com a frase: "Uma mentalidade gentil com si mesmo não o impediu de alcançar seus objetivos." Seu namorado/meu amigo é uma grande inspiração para nós duas, hein! Ah.... só queria te lembrar que vc já conhece o caminho da gentileza, porque o emprega com as outras pessoas! 😘