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RECANTO DA PROSA

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O peso do pássaro morto



Tudo bem, vamos lá. Vamos falar um pouquinho desse livro. O que dizer de "O peso do pássaro morto" que já não tenha sido dito? Que o livro é doloroso? É demais. Que a estrutura de prosa poética adotada por Aline Bei é absolutamente livre? Com certeza. (Minha revisora interior desmaiou na primeira página e achei melhor não acordá-la). Que a maturidade da autora em seu romance de estreia é surpreendente? Sem dúvidas. Não à toa, Aline Bei ganhou o Prêmio São Paulo, na categoria de Melhor Autor Estreante.


Então... o que dizer?


– o que é morrer?

ela estava fritando bife pro almoço.

– o bife

é morrer, porque morrer é não poder mais escolher o que

        farão com a sua carne.

quando estamos vivos, muitas vezes também não escolhemos.

mas tentamos.

[p. 21]


Poderia contar que tive de ler em doses homeopáticas para não perder a cabeça. Que precisei fechar o livro em mais de um momento para tomar um ar e gastar uns lencinhos. Que a experiência de leitura mexe em coisas que a gente prefere deixar escondidas debaixo do tapete. Que é preciso estômago pra chegar à última página. Que o livro te faz querer entrar ali e abraçar aquela personagem, sacudi-la, fazê-la reagir, impedir as sucessivas mortes que lhe acometem entre os 8 e os 52 anos de idade.


E por falar nela, quem é essa protagonista sem nome? Essa que somos todas, essa mulher universal que sentimos conhecer? Como lidar com a ideia central do livro, de que a cura não existe? Como atravessar essa narrativa sem se deixar cair junto da personagem?


tentei segurar

as lágrimas que caíam na minha mão em

concha,

eram tantas,

será que com o uso

um dia a lágrima acaba?, a vida

pode ser longa e eu não queria

virar

uma menina sem lágrima no meio do caminho

uma mulher.

[p. 26]


São muitas perguntas e poucas respostas, mas "O peso do pássaro morto" é um livro que vale cada lágrima. (Aliás, que título é esse, né?!) Não tenho conselhos de leitura a dar, não sei dizer como se preparar, como entrar nele, até onde mergulhar... Mas recomendo a todos que leiam. E como propõe Micheliny Verunschk (autora do texto impresso na orelha do livro): Que se leia, pois, com cuidado e reverência.


 

Sobre a coletiva dada pela autora no dia 30 de março, no Centro Cultural São Paulo, a convite da comunidade Leia Mulheres SP


Se fiquei impressionada com a leitura de "O peso do pássaro morto", mais impressionante ainda foi conhecer a autora por trás da obra. De cara, o que chama a atenção em Aline Bei é o seu carisma. Ao contrário do que se poderia esperar, dado o peso do livro, Aline é uma pessoa leve, aberta e divertida; de fala natural, calma e profundamente honesta acerca do seu processo de escrita.


Muito me surpreendeu vê-la admitindo que achou o final abrupto (até porque senti a mesma coisa ao terminar a leitura do livro) e que o teria feito de outra forma, se tivesse tido mais tempo. Sua sinceridade foi revigorante num mundo em que o ato de admitir falhas é considerado uma espécie de fracasso. "Gostaria de ter feito com mais cuidado", diz Aline, "mas naquele momento foi o que deu pra fazer [...] o 'pássaro' tem uma pressa que é minha".  A autora garante ainda que tudo é aprendizado e que está escrevendo seu segundo livro, agora com mais calma e consciência de seu processo produtivo.


"Preciso de liberdade absoluta para criar", afirma, quando perguntada sobre a estrutura de sua narrativa. "Para mim, a língua precisa estar a serviço da história, inclusive plasticamente [...] uso letras maiúsculas quando quero que a palavra ganhe um degrau, quebro as frases no ritmo da fala, leio muito em voz alta enquanto estou escrevendo".


Sobre "O peso do pássaro morto", Aline diz que acha difícil entendê-lo. Embora tenha partido de muitas memórias pessoais "que fazem parte de uma estrada de investigação", a autora afirma que a maior parte do trabalho foi intuitiva e que não sabe explicar ao certo de onde surgiu o livro. "A primeira coisa que me veio foi o título [...] e eu sabia que queria escrever uma história sobre perdas. Daí pensei que não há nada melhor pra falar de perdas do que o corpo de uma mulher".


Por fim, Aline falou ainda sobre a importância do feminismo em sua vida e que costumava achar que precisava resolver tudo sozinha. "Com o feminismo, eu comecei a entender que é melhor a gente se juntar. [...] O que faltou para essa mulher foi se abrir". Segundo a autora, o fato de sua protagonista ser "tão silenciada e tão silenciosa" é uma provocação para todos e todas nós.


Propósito cumprido.



 

Informações técnicas


Título: O peso do pássaro morto

Autora: Aline Bei

Ano de publicação: 2017

Editora: Nós, Edith

Nº de páginas: 165


Ficou interessado/a na leitura? Entre em contato com a autora pelo Instagram, em @alinebei, e solicite o seu exemplar.

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