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Os tais caquinhos

Atualizado: 31 de mar. de 2021



Os tais caquinhos, de Natércia Pontes, foi o primeiro livro que recebi da parceria com a Companhia das Letras, e só por isso já me deixou feliz. Mas a empolgação não parou por aí. Minha segunda boa surpresa foi que recebi dois exemplares – um pra mim e um pra dar de presente – pois a editora lançou uma campanha para estimular a leitura de autoras nacionais em homenagem ao dia internacional da mulher. Como tenho lido muitas escritoras nos últimos tempos, adorei a proposta e já mergulhei imediatamente na leitura – o que foi a terceira boa surpresa.


Sinceramente, eu não estava esperando muito do livro. Pelo que tinha ouvido falar, a narrativa se tratava de uma espécie de diário adolescente, e achei que seria uma outra coisa, completamente diferente. Mas que livro foi esse?!


Os tais caquinhos é uma narrativa fragmentária (não poderia ser de outra forma, né?); e os registros de Abigail, a personagem central, são caóticos, misturando sonhos, lembranças, vivências e desejos de uma forma muitas vezes confusa; como, afinal, é a adolescência. Agora vem o agravante: a vida de qualquer adolescente, por si só, já é uma coisa conturbada, mas nessa família, a mãe saiu de casa levando as duas irmãs caçulas, e deixando para trás apenas Abigail, Berta (um ano mais nova) – e o pai: Lúcio, um homem sensível, alcóolatra e acumulador.


Enquanto Berta procura escapar da vida que tem, isolando-se em seu quarto meticulosamente limpo e relacionando-se com colegas que possuem casas na praia, iogurtes não vencidos na geladeira, lençóis limpos e mães atenciosas; Abigail pula de um relacionamento ruim a outro, abraça (mesmo com repulsa) a sujeira e o cheiro de barata da casa, e oscila entre sentir ternura e desprezo pelo pai que as faz viver em meio ao lixo, dizendo às filhas que bebam água quando sentem fome. A narrativa é cheia de tristeza e passa por temas muito densos como relacionamentos abusivos, alcoolismo e mais de um tipo de violência. Acho importante deixar o alerta, pois pessoas sensíveis aos temas mencionados podem encontrar gatilhos emocionais bastante pesados.


Não sei se posso afirmar que Os tais caquinhos é um romance – sempre tenho dificuldade com textos de caráter experimental – mas digo, sem dúvida, que é uma tremenda narrativa: potente, complexa, exigente com o leitor; porém com trechos de uma luminosidade comovente. As personagens centrais são todas capazes de nos gerar empatia, e me fizeram sentir vontade de entrar no livro para lhes dar um abraço, encher a geladeira, trocar a roupa de cama, expulsar as baratas, tirar o lixo pra fora (sério, eu que sou ligeiramente obcecada por organização me vi desesperada em alguns trechos) e, é claro, ajudar a limpar a casa: esse gesto tão simbólico e que ganhou novas proporções durante a quarentena.


Meus agradecimentos à Companhia das Letras por essa leitura; e #CompartilheLeiturasFemininas


 

Dados catalográficos


Título: Os tais caquinhos

Autora: Natércia Pontes

Editora: Companhia das Letras

Número de páginas: 144


Sinopse:


Um romance poderoso e áspero sobre uma família, um apartamento caótico e as dolorosas descobertas da adolescência. Faltava muita coisa no apartamento 402. Mas sobravam muitas outras: caixas de papelão, bandejas de isopor, cacarecos, baratas, cupins, muriçocas, poeira, copos sujos.


Abigail, Berta e Lúcio formam um trio nada convencional. Duas adolescentes dividem o apartamento com o pai, um homem amoroso, idiossincrático, acumulador, pouco afeito à vida prática, que torce para que a morte venha logo lhe buscar e dá conselhos incomuns às filhas: “É muito bom sentir fome”.


Os tais caquinhos é um romance de formação trágico e comovente, capaz de arrancar risos nervosos. Ao descrever o dia a dia de uma família simbiótica em meio à cordilheira de lixo que só faz crescer, Natércia Pontes desenha um fascinante retrato de três pessoas que buscam conviver com seus sonhos e suas fantasias, suas manias e seus anseios, seus medos e suas revelações.

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