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RECANTO DA PROSA

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Como superar um bloqueio criativo?


bloqueio criativo

A pergunta do "Como Fazer" de hoje talvez seja uma das que mais escuto em oficinas de criação literária (além de já ter me feito quebrar a cabeça em mais de uma ocasião). Felizmente, no entanto, essa é uma questão que também possui múltiplas respostas possíveis, então vamos a algumas delas.


Como eu disse na semana passada, as respostas que venho trazer aqui são fruto das minhas pesquisas e experiências, o que significa que não são soluções definitivas e universais, mas caminhos que podem funcionar - e que têm uma eficácia legal para um grande número de escritores. Minha maior recomendação é a mesma de sempre: não custa experimentar. Grande parte do processo de se descobrir um(a) escritor(a) vem da experimentação de múltiplas estratégias; além de uma constante busca pela aquisição de referências, teorias e ferramentas.


No post de ontem - Planejando um novo romance - contei um pouco do processo que tenho seguido a partir das orientações do professor Assis Brasil (que já vem conduzindo oficinas de criação literária há mais de 35 anos); e como os bloqueios criativos costumam ser impeditivos mais comuns aos romancistas do que aos entusiastas das narrativas curtas (cujos contos e crônicas costumam surgir em rompantes criativos que não exigem muito fôlego para serem finalizados), vou me focar nas dicas para quem se aventura nas narrativas longas. Não digo com isso que uma corrida de 100 metros não exija grande esforço físico e muita preparação prévia. Apenas que numa maratona completa, as chances de alguém se cansar no meio do caminho e abandonar a prova são maiores. (Sim, ainda estou no clima das Olimpíadas).


Então vamos lá. Também no post de ontem, defendi que uma boa estratégia para evitar bloqueios criativos é fazer um planejamento prévio. A comparação que costumo fazer em oficinas é que nenhum arquiteto é louco de começar a subir um edifício, sem antes ter uma planta muito bem estruturada e fundações solidamente construídas. "Tá, legal. Mas acontece que já estou no meio de um projeto não planejado e me perdi. O que fazer agora?"


Acho que o mais importante é reavaliar o motivo pelo qual você está se dedicando a esse projeto. Por que você o começou? Esse motivo ainda faz sentido pra você? Essa pode ser uma questão complicada de se responder, mas o importante é que você seja muito, muito honesto(a) consigo. Talvez seu projeto tenha feito sentido em determinado momento da sua vida, mas já não faça mais; afinal estamos em constante transformação, assim como nossos valores, anseios e urgências. A certa altura, digamos aos 15 anos, pode ter parecido super importante escrever sobre o primeiro amor; mas talvez aos 18, a questão da escolha de carreira seja mais premente; e por aí vai. Insisto sempre que devemos escrever sobre aquilo que nos incomoda. E se algo deixou de te incomodar, pode ser que o seu romance soe falso, caso você insista nele. A dica aqui é muito simples (mesmo que difícil de ser posta em prática): desapegue-se e dê espaço para novas ideias. Tenho certeza de que você tem criatividade para encontrar novos horizontes. :)


"Ok, dica número um anotada. Mas acontece que fiz uma reflexão sincera e cheguei à conclusão de que realmente quero escrever sobre isso. E aí?". Nesse caso, tenho algumas sugestões, umas mais amplas, outras mais específicas.


Para esse contexto, a primeira dica é escrever umas bobagens. Sim, é isso mesmo o que você leu. Há grandes chances de que você esteja se autossabotando por perfeccionismo, então pare de se levar tão a sério! E daí se o seu primeiro romance não tiver muitos leitores? E daí se o segundo não for melhor que o primeiro? E daí se a crítica não for muito gentil? Escrever não é uma habilidade de crescimento linear. Ela vacila e isso normal - somos criaturas vacilantes. Experimente escrever algumas cenas que você não vai usar, ou mesmo um diário de anotações fúteis. O importante é se exercitar. Numa dessas, você pode acabar abrindo um furo no dique e deixando a água fluir. Acredite em mim, o furo vai crescer naturalmente. Parece autoajuda barata, mas é verdade.


Dica número dois: largue de preconceitos com o estudo literário e as oficinas de escrita. Nada disso vai te engessar ou pasteurizar. Prometo. Nunca conheci ninguém que se tornou menos talentoso depois de aumentar seus conhecimentos e referências na área. Músicos estudam. Atores estudam. Escultores. Bailarinos. Quem foi que ungiu os escritores dessa inspiração tirada do nada? Um pouco de teoria pode te apontar caminhos, oferecer uns atalhos e te munir de ferramentas.


Veja só um exemplo bobo. Na quarentena, dentre as compras doidas que fiz, acabei arrumando uma parafusadeira elétrica. Graças a ela, consegui montar um aparador, uma sapateira, prateleiras para os meus livros e um banquinho, em metade do tempo que gastei para pôr de pé um mesa de centro usando uma chave manual. Pegou a analogia? Então pare de sofrer! Assim como defendo o planejamento, minha casa e eu defenderemos as oficinas de escrita. Além de te propiciarem contato com outros entusiastas da literatura (o que significa mais cabeças pensando em soluções distintas, onde antes só havia a sua), há sempre algo de bom a se extrair das vivências de escritores mais experientes. Não precisa acatar tudo. Veja o que faz sentido pra você e pronto. De minha parte, só posso dizer que meus textos melhoraram consideravelmente depois de alguns anos de estudo.


Dica três: experimente outros gêneros. Escrever narrativas breves - ou até mesmo poemas, por que não? - pode ser interessante para que você se mantenha em atividade. A estrutura de um romance é completamente diferente (por isso da dica anterior sobre estudos teóricos), mas qualquer tipo de texto pode te ajudar a encontrar os temas que mais te inspiram, experimentar recursos de linguagem, descobrir o seu estilo e se educar para criar uma rotina.


... o que me leva à dica número quatro. Encontre uma rotina de escrita que faça sentido pra você, inclusive testando qual é o seu horário mais produtivo. Já vi muita gente defendendo a importância de se escrever todos os dias, mas isso não funciona pra mim, por algumas questões muito simples: a pressão me atrapalha; a frustração de quando perco um dia faz mal ao meu emocional; e não sou um robô. Tenho dias ruins. Bem ruins. E você também tem. Nesses dias, faço apenas o mínimo necessário para o mundo não desabar e durmo cedo. Às vezes me recupero mais rápido, às vezes demoro. Uma hora passa. Considero que mais importante do que escrever todos os dias, é escrever com consistência. Se a sua agenda te permite dedicar uma hora por dia, maravilha. Se são três horas por semana, maravilha. Se é só uma no domingo, maravilha também. Apenas faça o compromisso consigo mesmo(a) e se perdoe em caso de falhas ocasionais.


A quinta dica é bem técnica (sério, teoria literária): tente mudar o foco narrativo. Não foi em apenas uma ou duas vezes que vi um romance deslanchar depois de passar da terceira para a primeira pessoa (ou vice-versa). Aí é largar de preguiça e voltar na primeira linha, reescrevendo o que for necessário. Romancista não pode ter apego ao que escreveu, nem preguiça de reescrever. Insistir em algo que está soando artificial, ou que simplesmente não está dando certo é besteira, não acha?


A dica número seis, por outro lado, é mais existencial. Cerque-se de gente que te incentiva. Romancistas são, em sua maioria, muito inseguros - e você não precisa de mais vozes (além daquelas que provavelmente já estão na sua cabeça) te dizendo que aquilo talvez não seja tão bom; que você está perdendo tempo; que não leva jeito ou não tem dom. (Aliás, não acredito em dom). Volto a mencionar as oficinas. Via de regra, em turmas de criação literária, todo mundo se apoia - porque todo mundo ali entende essa dificuldade e não quer dificultar ainda mais a vida do outro. É uma questão de empatia. Não estou dizendo que tudo são flores, é claro que existe gente que gosta de ser cruel em qualquer lugar, sem razão alguma; então aprenda a diferenciar as críticas construtivas das destrutivas. (E fuja pra longe de quem não tem nada de construtivo a te dizer!).


A sétima dica pode ser bem óbvia, mas acho importante lembrar. Você dificilmente irá conseguir escrever bem se antes de tudo não aprender a ler como um escritor. Bons livros sempre terão algo a ensinar - e podem ser muito inspiradores. Leia devagar, releia, procure analisar as técnicas e recursos que te chamaram a atenção, grife os livros ou insira post-its, faça um diário de leituras etc. Às vezes basta uma frase para te dar um insight. O romance no qual estou trabalhando neste exato momento nasceu de uma citação que encontrei num livro.


Por fim, deixo mais uma para te aliviar a pressão. Aceite o bloqueio. Simples assim. Sem a autocobrança, a gente se liberta para as coisas se resolverem com mais naturalidade. Se você não funciona sob pressão, percebe como é contraditório se pressionar? Há pessoas que se tornam muito produtivas quando têm prazos, metas rígidas e horários fixos. E se você é desses, ótimo. (Autoconhecimento é tudo, minha gente). Mais uma vez, o importante é não estagnar. Aproveite o bloqueio para acumular referências, experiências e conhecimentos. Quem sabe ao voltar para o seu romance você já não adquiriu as ferramentas adequadas para resolvê-lo com muito mais facilidade do que achou que seria necessário?


Por hoje, fico por aqui; e outra vez, espero ter ajudado. Se você aproveitou ao menos uma dessas dicas, já me dou por satisfeita. E ficarei ainda mais se você rolar a página um pouquinho pra baixo e deixar um comentário. Desse modo, não sinto que estou falando para o além. :)


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