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Planejando um novo romance

Foto do escritor: Aline Caixeta RodriguesAline Caixeta Rodrigues


Conforme o calendário do BEDA, segunda é dia de falar dos projetos literários que estão em andamento. E nada mais com cara de segunda-feira do que falar em recomeços, né?


Quem me conhece sabe o quanto defendo as oficinas literárias. Ao contrário do que muita gente pensa, fazer uma oficina de escrita não vai te engessar, não vai tirar a sua paixão pela literatura (a não ser que ela se resuma à leitura ingênua, porque essa vai embora mesmo) e não vai pasteurizar o seu estilo - até porque em qualquer oficina de escrita, basta olhar para os resultados que fica evidente o quanto cada pessoa escreve de sua própria maneira.


Daí que estou sempre fazendo um curso ou outro. E desde que terminei a graduação em Letras, em 2014, meu sonho de princesa sempre foi estudar com o professor Assis Brasil; o que acabou acontecendo no segundo semestre do ano passado. Já estou no terceiro semestre de curso e tenho experimentado a sua abordagem de construção de romance, a partir de um plano composto por três etapas que devem ser percorridas antes de se começar, de fato, a escrever: a redação de uma sinopse, de um resumo e de um resumo expandido. Não vou entrar em grandes detalhes, até porque questões éticas, afinal não me sinto autorizada nem capacitada a falar das teorias abordadas nos cursos e livros do professor Assis; mas como meu novo romance foi gestado a partir de suas oficinas, achei interessante compartilhar um pouco da teoria dele (com as minhas palavras e segundo a minha compreensão), para que vocês saibam das etapas que percorri até o momento. Obviamente, este post é só "um gostinho" e eu recomendo fortemente a leitura do livro escrito pelo professor: Escrever ficção - um manual de criação literária.




Então vamos lá. Basicamente, a sinopse é "um enunciado instrumental de uma única frase, em que o ficcionista define o tema da narrativa, com a identificação da questão essencial do personagem e do conflito da história" (BRASIL, Luiz Antonio de Assis. Escrever ficção. Companhia das Letras. Edição do Kindle) - o que é bastante útil para ajudar a manter o foco durante a escrita do romance e para ter clareza do que se pretende escrever.


O segundo passo é transformar essa sinopse num resumo, coisa de uma página, na qual deve-se escrever os eventos do enredo; ou seja: o que vai acontecer na história. Parece difícil, mas não é tanto assim. Se você tiver clareza de quem é a sua personagem central - e, especialmente, de seu maior conflito interior (a questão essencial) - uma coisa meio que vai puxando a outra. E não é magia. O que acontece é que diante dos acontecimentos da narrativa, uma personagem consistente irá reagir de forma X ou Y segundo a coerência interna da trama. Em outras palavras, ela irá fazer o que faz sentido, mesmo que seja algo inesperado. Nessa etapa, não é interessante entrar em muitos detalhes ou escrever cenas, apenas contar o que acontece mesmo.


Por fim, chegamos ao resumo expandido, que me parece um esqueleto um pouco mais detalhado do resumo. Aqui, a ideia é escrever "resuminhos" de cada um dos episódios do romance, de modo que na hora de escrever, basta consultá-los e mandar ver. Sobre esse ponto, a primeira pergunta que surge é sempre a mesma: "Mas isso não vai matar a minha criatividade?" Olha, só posso responder por mim e digo que não. Quer um exemplo simples? Existe uma nota famosa, de Tcheckhov, que é muito referenciada no estudo do conto, e que diz assim: "Um homem vai a um cassino em Monte Carlo, ganha um milhão, volta para casa e se suicida". Certa vez, participei de uma oficina em que todos os participantes receberam essa frase com a missão de transformá-la num conto - e os resultados foram muito plurais! Cada um escreveu a história à sua maneira, com seu próprio estilo, seus artifícios; e é nesse ponto que quero me concentrar: uma anotação (um lembrete) do que você quer escrever não irá te impedir de ser criativo. Pelo contrário, irá te ajudar a não se perder em bloqueios ou a chegar no meio do romance e dizer: "Legal, e agora?" Minha dica é tentar. Já tentei escrever um romance sem planejamento que morreu na página 80 e já finalizei um que foi planejado. Se funcionou tanto para Flaubert quanto para J.K. Rowling, acho que pode ser uma boa ideia.


Planejamento de Madame Bovary, G. Flaubert

Planejamento de Harry Potter: e a Ordem da Fênix, J.K. Rowling

Até o presente momento, meu projeto conta com os três elementos citados acima e um esboço do primeiro capítulo. Estou bastante empolgada e acho que essa estrutura de planejamento pode dar certo. Em outra oficina que fiz por aí, dessa vez com o professor Tiago Novaes, anotei algo que ele disse e que fez muito sentido pra mim. Não me lembro das palavras exatas, mas a ideia era que planejar um romance é como colocar um destino no GPS do carro. Você pode recalcular a trajetória se for necessário fazer desvios, mas ao menos você sabe para onde está indo e não vai se perder (ou ficar dando voltas desnecessárias). Faz sentido pra vocês também?


Por hora, ainda não sinto vontade de falar muita coisa sobre meu romance em gestação. Mas posso compartilhar um pouco do tema central com vocês. Como eu disse na última quarta-feira, na resenha do livro Bartleby e companhia, de Enrique Vila-Matas, topei com essa citação de Susan Sontag na página 73, que ficou reverberando na minha cabeça:


"A atitude realmente séria é aquela que interpreta a arte como um meio para obter algo que talvez só se possa alcançar quando se abandona a arte".


O livro de Vila-Matas fala de escritores que quiseram deixar de escrever, e procura investigar seus motivos para isso - o que desagua na busca pelo espelho da questão: o que leva um escritor a escrever? Quebrando cabeça nisso, expandi a pergunta para qualquer forma de arte: o que leva um artista a criar? E de imediato, minha conclusão foi uma só: o medo de ser esquecido, de não deixar um legado - em última instância, o medo da morte.


E essa é a estrada que estou planejando seguir. :)



2 kommentarer


anacarolinaffran
anacarolinaffran
09 aug. 2021

Se já estou curiosa? ÓBVIO!

Gilla
Aline Caixeta
Aline Caixeta
09 aug. 2021
Svarar

Vou te manter atualizada! ;)

Gilla

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